Há 12 anos, fui no lançamento do livro “Felicidade”, do economista Eduardo Gianneti.
Um ensaio em que quatro jovens brasileiros se encontram periodicamente para discutir um tema proposto por um deles, sempre tendo como fio condutor o Iluminismo, e sua promessas de felicidade, a partir do progresso nas ciências e nas artes, o que, pretensamente, permitiria aos humanos pleno domínio sobre a natureza em busca de um mundo mais justo e fraterno.
Guiados pelo conhecimento, calcularíamos, com precisão, como evitar a dor e alcançar o prazer.
O progresso e a ciência chegaram e o mundo nunca foi tão injusto e se guerreou tanto.
No final dos anos 1980, o psiquiatra, autor e roteirista, Roberto Freire, dizia que o homem alegre e feliz é o verdadeiro revolucionário em uma sociedade que cultiva a culpa, o rancor e a competição.
Dizia que “Sem tesão, não há solução” – nome de um de seus livros de maior sucesso -; “não o tesão que habita os dicionários oficiais, mas aquele que é produto romântico e semântico dos que sentem desejo pelo desejo, alegria pela alegria e beleza pela beleza.
Mas pode ser ainda tesão que sente desejo pela alegria, beleza pelo desejo e alegria pela beleza”. Estará aí a felicidade?
Em algum lugar do ano de 2021, escrevi, e talvez tenha publicado: “a felicidade é contagiante, e revolucionária; o feliz, não diminui ou exclui pessoas.
Ao contrário, é includente, compartilha, inspira, respeita, ajuda e tem empatia e compaixão.
Dela, da felicidade, depende o bem estar da comunidade e sua percepção coletiva deve ser objeto da política. Uma pessoa feliz, é só uma pessoa feliz.
Várias pessoas felizes, é uma comunidade feliz, vivendo em bem-estar”.
Há 2 semanas, fomos, eu e minha mulher, ao teatro. “A última sessão de Freud”, com Odilon Wagner, que dá um show de interpretação como Siegmund Freud, o pai da psicanálise; e Claudio Fontana, na pele de C.W. Lews, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e teólogo irlandês, da primeira metade do século XX.
Um roteiro baseado no livro “Deus em questão”, de Armand Nicholi Jr. Freud e Lewis debatem ficcionalmente, sobre Deus, amor, sexo e felicidade.
Freud, a partir de sua visão materialista de mundo, equipara a felicidade ao prazer, que vem da satisfação de necessidades sexuais.
Para ele, é muito difícil ser feliz. Primeiro, devido aos sofrimentos, por doenças, idade, forças destrutivas da natureza, e o pior de todas, os relacionamentos interpessoais.
Depois, porque experimentamos o prazer sexual somente como fenômeno episódico, permitindo-nos que experimentemos a felicidade por muito pouco tempo. Explica ele: “somos capazes de sentir alegria intensa somente por contraste e bem pouco por algum estado das coisas”.
Como de fato nossa sociedade impõe grandes restrições e proibições quanto as manifestações de necessidades instintivas, imagina o que nos resta! questionava, concluindo que “é menos difícil de ser infeliz”.
Lewis a creditava que o Sagrado se encarrega, de fato, da nossa felicidade, mas se não a alcançarmos, foi por nossa culpa, que infligiu a miséria a outros.
Dizia que quanto mais inteligente e talentosa uma pessoa que Deus tenha criado, maior a sua capacidade de amar e de ser uma força positiva no universo.
Mas se esta se rebela, maior sua capacidade de provocar o mal, infligir sofrimento e causar infelicidade.
Recentemente, os jornais repercutiram uma pesquisa realizada no estado de São Paulo.
Quantos de nós é feliz. O resultado é surpreendente, 72% dos entrevistados se disseram felizes ou muito felizes.
Num mundo em que essa mesma ciência afirma que 30% da população, já teve, tem ou um dia terá depressão, angústia e ansiedade, prefiro acreditar que, como eu, as pessoas não saibam o que é exatamente felicidade.
Quem sabe não seja esse um dos grandes mistérios da vida, caminhar pela felicidade.
E você, tomaria uma pílula de felicidade?