“O patriarcado envenena a todos nós, aos homens tanto quanto às mulheres”, afirmou Ivan Jablonka, numa entrevista ao El País, jornal espanhol. Na engenharia brasileira esta é uma barreira a ser superada.
Por Lara Fernanda Modolo Ducci
Em ‘Des Hommes Justes’, o escritor francês percorre a história da dominação masculina onde propõe a refundação da virilidade para torná-la compatível com a igualdade de gênero.
Nas relações humanas, nas instituições, nas corporações, no estado, na base de cada articulação social, o patriarcado impera. A cultura do machismo é um obstáculo a emancipação da mulher e da sociedade em geral.
Urge um novo olhar para as políticas públicas a serem implementadas em prol das mulheres em nosso cenário social, de combate a violência contra as mulheres, de núcleos de serviços e atendimentos às mulheres vítimas de violência. Em suma, combater o machismo e qualquer tipo de preconceito ou discriminação, faz-se necessário.
A presença feminina nos setores majoritariamente masculino aumenta, cresce na luta pela implementação de suas propostas e inspira o empoderamento feminino, prova de que ele abrirá caminhos desafiadores e únicos.
Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revela que mulheres são apenas 18,6% dos líderes em 12 áreas da administração pública, no país, de saúde a economia – a cifra é a menor do ranking com outras 15 nações da região.
A qualificação na gestão pública perpassa o debate da representatividade feminina.
Este é um momento importante pois representa um marco no processo de consolidação das Políticas de Equidade de Gênero na sociedade, que tem uma trajetória em prol da categoria, do protagonismo e da valorização feminina, da tecnologia e do desenvolvimento nacional.
A participação feminina nas áreas da Engenharia aumentou no decorrer das últimas décadas. A engenharia é uma mola de propulsão fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. Precisamos humanizar as relações da sociedade como um todo e, em especial na engenharia, com a presença da mulher. A valorização da Mulher Engenheira deve ser concomitante ao crescimento da percepção sobre a importância da profissão, trazendo as mulheres como foco e, a visão da inclusão da engenharia na sociedade.
De acordo com o Relatório sobre os quadros de profissionais do Sistema Confea-Crea-Mútua, de um total de 1.077.048 profissionais ativos, 212.073 são do gênero feminino. Ou seja, aproximadamente 20% é de participação feminina nas áreas tecnológicas e no sistema.
O profissional da engenharia precisa ser reconhecido pela sociedade como fundamental para sua qualidade de vida, pois está no cerne de questões que determinam os rumos de um país mais justo, igualitário e desenvolvido.
Reflexões sobre nossa atuação, fortalecendo o propósito e o compromisso com o empoderamento das mulheres, incentivando o aumento da participação das mulheres profissionais das áreas da Engenharia, Agronomia, Geociências, Meteorologia e Tecnologia, dentro do sistema, nas entidades e no mercado de trabalho, permitem e demonstram a conscientização da categoria. Mostrar que podem e devem atuar em todas essas áreas, nos mais diversos cargos, por estarem amplamente preparadas para atividades, tanto quanto os homens.
Em um ano de eleições do Sistema Confea-Crea-Mútua, mais do que enaltecer a mulher é preciso assumir compromissos, não somente numéricos, no sentido de ter mais participação das mulheres nos quadros diretivos que teremos à frente do Conselho. Mais do que uma questão quantitativa, uma questão qualitativa para empoderar-se em funções importantes, funções relevantes. Apontar avanços efetivos, para que o sistema absorva os ensinamentos que vem da alma feminina, da capacidade feminina de olhar para o mundo. Olhar diferencial e importantíssimo, urgentes nas instituições, não só nas relações pessoais, mas sobretudo nas relações institucionais, como ocorre de fato em uma autarquia pública federal, como a nossa.
É neste cenário proativo que se organiza um programa de trabalho, tendo à frente o colega engenheiro e professor José Manoel Ferreira Gonçalves. José Manoel tem formação ampla: engenheiro civil, jornalista, professor universitário, escritor e palestrante, advogado e cientista político.
A meta é avançar, tecnologia e inovação fazem parte da engenharia. Olhando para o futuro e novas referências, como a implementação da internet 5G, a Web 3.0, o STEAM como ferramenta, a nova economia verde e os pilares de ESG, a disseminação de startups, criando oportunidades adicionais e, infundindo aspectos sociais, ambientais, éticos e políticos dos esforços atuais, em tecnologia e inovação, em pesquisa, ensino, orientação e serviço.
Políticas públicas de compliance. Compromissos com a adoção de um sistema de governança afim de equilibrar o controle e a eficiência, para a promoção de um ambiente de referência em ética, integridade, transparência e o incentivo à adoção de práticas ESG junto as nossas autarquias e fundações públicas. Em fim, buscar a superação de questões culturais que ainda persistem, valorizar e melhorar a interação entre as profissionais mulheres.
Avante, Mulheres Engenheiras!
Lara Fernanda Modolo Ducci – Engenheira Civil, Conselheira da CNTU e AGUAVIVA. Especialista em Saúde Pública, Resíduos Sólidos Domiciliares e Impacto Ambiental, Petróleo e Gás Natural, Gestão Pública e Gestão Escolar. Professora da SEESP.