Amigos da escola e amigos na escola. Bons tempos!
* Prof. Marco F
João era um garoto muito inteligente, boas notas na escola, pensava em ser bombeiro ou veterinário. Levava uma vida tranquila e sua família dispunha de recursos para lhe garantir o direito de estudar.
Em Cruz Azul, a melhor escola da cidade era pública e ficava bem pertinho da matriz. O Grupo Escolar Professor Roberto de Oliveira, inaugurado em 1916, ocupava um prédio muito bonito, de arquitetura inglesa. À época em que João frequentou a escola, lá estudavam mais de 500 alunos, no ginásio e colegial, hoje ensinos fundamental II e médio. Alunos de todas as classes sociais sentiam orgulho de estudar no "Robertão". A equipe de professores, coordenadores, diretoria e funcionários trabalhavam incansavelmente para lhes garantir ensino de qualidade.
Recentemente, João, que agora mora em Itanhaém, litoral paulista, esteve na sua cidade natal para o casamento de Sérgio Carlos, Serginho, amigo de infância, o último dos solteirões de sua turma da escola.
A festa de casamento durou a noite toda. Velhos amigos se reencontraram muitos anos depois e riram com as histórias de outrora.
Boa parte das conversas envolviam os momentos vividos na escola. Do "Seo" João, o " faz-tudo", até Dona Irinéia, a merendeira, todos foram lembrados com muito carinho. Professores e professoras deixaram marcas profundas na vida daquelas crianças. Reginaldo, à época um jovem extremamente forte e elegante, era o professor preferido pelas garotas. O interesse por Matemática entre elas aumentara muito. Helena, morena de cabelos cacheados e olhos verdes, sem esforço algum, tirava o sono dos garotos e de outros professores. Certamente seu namorado era o homem mais invejado da cidade.
Bons tempos, em que todos se sentiam bem na escola, os que nela trabalhavam ou lá estudavam.
Infelizmente, a realidade atual das escolas públicas é muito diferente daquela época. Por que?
A questão é complexa, mas o fato é que muitas delas pararam no tempo e não conseguem mais agradar quem as frequenta.
Estamos cansados de ouvir que o Brasil é o país do futuro. Isso só seria possível com grandes investimentos em educação, mas que diminuiriam as desigualdades sociais e a violência crescente em nossa sociedade. Victor Hugo, quase 200 anos atrás, já havia percebido que "quem abre uma escola, fecha uma prisão".
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.
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