Estariam as escolas prontas para o retorno?
* Prof. Marco F
As escolas do Estado de São Paulo poderão ter até 100% de alunos presentes a partir de 2/ago. Essa decisão, anunciada no último dia 16 pelo governador João Dória, divide as opiniões.
Estariam as escolas prontas para o retorno? Que tipo de risco isso poderia oferecer aos alunos, professores e funcionários?
Quais os benefícios que essa decisão, sendo mantida, trará aos estudantes?
Analisemos primeiro o mais fácil: não há a menor dúvida que frequentar a escola é fundamental para a formação intelectual e do caráter das crianças, e que o ensino remoto foi a única opção encontrada para mantermos algum tipo de interação entre professores e alunos .
Mas é como assistir novelas em uma TV sem imagem...
Uma aula remota não é interativa, falta maior contato entre os mestres e seus comandados.
A mesma interação que também é fundamental que exista entre os colegas e amigos. É na escola que aprendemos a nos relacionar com outras pessoas, entender as diferenças de formação e educação, dividir emoções e nossas coisas, respeitar opiniões contrárias, nos apaixonamos, decepcionamos e criamos raízes para a vida. Tudo isso está sendo negado aos alunos, com consequências ainda não conhecidas para o futuro, mas muito sérias no presente. Existem relatos de jovens sofrendo com a distância dos amigos e com a dificuldade em viver diante de uma tela de celular ou notebook, quem os tem disponíveis...
Jovens do mundo todo estão sendo privados do convívio social, isso afeta gravemente suas vidas e de suas famílias. Os pais e mães sofrem dobrado com a dor dos filhos.
A questão dos benefícios que o retorno às aulas trará aos alunos é ponto pacífico. Aos professores e funcionários também seria muito bom o retorno. Dar aulas remotas é algo esquisito, retira do professor a possibilidade de se aproximar dos alunos. Tenho certeza que outros professores acreditam ser este um excelente recurso, mas para ser usado como complemento às aulas presenciais. Nunca as substituirão. Além do que trabalhar em casa é muito mais difícil e nos consome um tempo maior.
Mas existem condições adequadas para o retorno? Esta é a questão! Vários fatores devem ser analisados. Algumas escolas particulares, poucas públicas, não terão problemas para seguir as regras sanitárias. Dispõem de recursos e estrutura física para cumprirem o distanciamento social e oferecerem salas, laboratórios, cantinas e banheiros higienizados. Infelizmente, em muitas delas faltará álcool em gel, do mesmo modo que já faltavam giz ou papel higiênico.
Por que devemos acreditar que os estudantes usarão máscara, álcool em gel ou não estarão aglomerados? Será que passarão a respeitar os professores, o que infelizmente não acontece em muitas escolas? E quando um aluno, professor, funcionário ou prestador de serviço estiver contaminado? O que será feito com os demais? E se o contaminado não comunicar à escola que está doente? Fazendo uma conta rápida, em uma escola com 300 alunos, relativamente pequena, são pelo menos 100 famílias de alunos, mais outras tantas de profissionais que nela trabalham...
O governador garantiu que o ensino híbrido será mantido, mas nada se fez para garantir acesso à Internet para quem não tem wi-fi em casa ou não tem um aparelho celular, tablet ou computador.
Deixei por último uma análise que estranhamente não tem sido feita pelos" especialistas " em educação .
E os professores? Quem os ouviu? Quais os medos e riscos que os afligem? Não seria inteligente apoiar quem é fundamental no processo escolar? O mesmo se aplica aos demais funcionários de uma escola. Merendeiras, seguranças, faxineiros, inspetores, secretárias e diretores tem nomes, tem histórias, tem famílias.
Defendo o retorno às aulas presenciais de modo progressivo, desde que mudemos o foco das discussões : não discutamos apenas a porcentagem de alunos que estarão na escola, mas também como cada uma delas vai tratar as questões de segurança daqueles que a frequentam respeitando casos específicos, garantindo aos alunos, professores e funcionários total segurança. Um pacto com a comunidade do entorno, em que se mostre a importância de aulas presenciais, mas com rigor nos cuidados. Aula presencial interessa para todas as partes. Manterem-se vivos também...
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.