Fim da integração aumenta em 95% tarifa em linha entre Santos e São Vicente
A 925, conhecida pelo prefixo 105, deixou de parar no Terminal do Valongo. Com isso, para embarcar em coletivo rumo a outros bairros da cidade, é preciso pagar nova passagem
Por Wagner de Alcântara Aragão
A integração tarifária que existia há quase 30 anos em uma linha metropolitana da Baixada Santista foi interrompida durante a pandemia de covid-19 e não mais restabelecida. A medida, tomada sem maiores explicações, está prejudicando os usuários da linha 925, que ligava a Cidade Náutica, em São Vicente, ao Terminal do Valongo, em Santos – de onde era possível embarcar, sem pagar nova tarifa, para qualquer lugar da cidade.
Com isso, deslocamentos que eram feitos ao custo da tarifa metropolitana, de R$ 4,90, agora são percorridos com acréscimo da tarifa municipal de Santos (R$ 4,65), ou seja, total de R$ 9,55 (isso sem contar a volta). Os ônibus não param mais no terminal; circulam apenas nas ruas do Centro. Descendo ali, para embarcar em outro coletivo é preciso passar na roleta de novo.
Resultado: na prática, os passageiros da linha estão sofrendo com um aumento de praticamente o dobro (95%) no custo com transporte coletivo.
A linha 925 é operada pela BR Mobilidade, sob regulação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Mas a integração remonta a 1993.
Na época, a Baixada Santista não era oficialmente região metropolitana, e a gestão do transporte intermunicipal era feita pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Mas, por meio de um convênio firmado entre as prefeituras de Santos e São Vicente, foi viabilizada a integração tarifária na ligação, por meio de uma linha (131) operada pela então Companhia Santista de Transportes Coletivos (CSTC), empresa pública.
Decisões judiciais motivadas por pressão da concessionária privada da época obrigaram o seccionamento da linha. Assim, ônibus municipais de São Vicente levavam os passageiros da Cidade Náutica até a divisa com Santos, na Vila São Jorge, nos Tambores. Em um ponto ali instalado, sem precisar pagar nova tarifa, os usuários embarcavam na linha municipal 105, de Santos, até o Terminal de Integração de Passageiros Rubens Paiva, no Valongo, zona central. Nesse terminal, tinham acesso - também sem pagar nova passagem - a linhas para toda Santos.
Com a oficialização da região metropolitana da Baixada Santista, em 1996, o transporte entre os nove municípios passou sob administração da EMTU. A então linha 105 incorporou o trajeto da linha em São Vicente, e se constituiu na linha metropolitana 925. Contudo, até hoje, a linha é identificada com o prefixo 105, porque assim é reconhecida pela população.
E por que a integração?
Porque no território vicentino a linha 105 faz um itinerário que abrange conjuntos habitacionais – como o Tancredo Neves – construídos a partir dos anos 1980 pela Cohab Santista para receber famílias que moravam em condições inadequadas no município de Santos. Ou seja, para minimizar os efeitos da mudança forçada de cidade, garantiu-se uma linha de transporte que permitisse a integração com outros bairros de Santos, sem que isso significasse um custo ainda maior com deslocamentos.
De acordo com reportagem publicada no último dia 10 pelo Diário do Litoral, a Prefeitura de Santos alegou que, durante a pandemia, optou por restringir o Terminal do Valongo a linhas municipais. Disse estar em tratativas com a EMTU para reestabelecer a integração. No entanto, não informa prazo. Enquanto o tempo passa, o povo segue arcando com o gasto extra.
A BR Mobilidade não tem se pronunciado. Pertence ao Grupo Comporte, o mesmo detentor da Viação Piracicabana, que opera as linhas municipais de Santos. Isto é, a nova despesa com a qual os passageiros da linha 925/105 estão arcando significa mais receita aos cofres da corporação. A EMTU também não tem se pronunciado sobre o retorno da linha ao itinerário original.
* Wagner de Alcântara Aragão é jornalista e editor da Rede Macuco (www.redemacuco.com.br).
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