Jingles inesquecíveis - 2ª Parte
Por MarioEfeGomes
Conforme noticiado em coluna anterior, sigo comentando algumas propagandas e seus respectivos jingles que, em minha memória afetiva, considero os mais relevantes da TV brasileira.
Em 1962, a Cera Dominó (foto) passou a exibir na TV um jingle de autoria do compositor Edison Borges de Abrantes (conhecido por “Passarinho”), que já era transmitido pela rádio desde os anos 1950: “Pise sem dó é Cera Dominó / Rende mais, brilha mais, brilha mais / Pise sem dó é Cera Dominó.” Uma marchinha meio hipnótica em que, a cada frase musical, a melodia era elevada em um tom. Um chiclete que grudava nos ouvidos da garotada e influenciava as mamães na hora da compra!
A extinta companhia aérea Varig (Viação Aérea Rio-Grandense), de Porto Alegre, que era dona da subsidiária Cruzeiro (Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul), do Rio de Janeiro, também teve jingles sensacionais veiculados na rádio e na TV que ecoam até hoje na memória das gerações nascidas nos anos 1950 e 1960, entre os quais destaco os três as seguir. Em 1967, por ocasião do lançamento da nova rota Rio/Lisboa, a Varig (foto) lançou na TV uma peça publicitária de animação, com um jingle de autoria do compositor e publicitário Archimedes Messina: “Seu Cabral vinha navegando / Quando alguém logo foi gritando / Terra à vista / Foi descoberto o Brasil / E a turma gritava / Bem-vindo seu Cabral / Mas Cabral sentiu no peito/ Uma saudade sem jeito / Volto já pra Portugal / Quero ir pela Varig / Varig, Varig, Varig, Cruzeiro, Cruzeiro”. No ano seguinte, para divulgar sua nova rota Rio/Tóquio, lançou na TV outra propaganda de animação, desta vez com um jingle inspirado numa lenda japonesa, também de autoria de Archimedes Messina, que iniciava por: “Urashima Taro / Um pobre pescador / Salvou uma tartaruga / E ela, como prêmio, ao Brasil o levou...”, e terminava com “... Encontrou uma passagem da Varig / E voou ele para o Japão / Varig, Varig, Varig”! Mas o jingle da Varig que considero o mais especial foi criado em 1963, pelo músico e publicitário Caetano Zammataro Neto, interpretado originalmente por Clélia Simone (cantora que nos anos 1970 interpretaria o famoso jingle do Café Seleto e muitos outros inesquecíveis). De tanto sucesso, se tornou um símbolo do Natal para várias gerações: “Estrela brasileira no céu Azul / Iluminando de norte a sul / Mensagem de amor e paz / Nasceu Jesus, chegou o Natal / Papai Noel voando a jato pelo céu / Trazendo um Natal de felicidade / E um ano novo cheio de prosperidade / Varig, Varig, Varig / Cruzeiro, Cruzeiro”. Curiosidade: Este jingle foi tão impactante que Xuxa, no auge de sua popularidade, o regravou na propaganda da Varig para o Natal de 1992, decorridos quase 30 anos de sua criação (quem tiver curiosidade em assistir, é só fazer uma busca no YouTube)!
Em 1971, a Rede Globo veiculava pela primeira vez um jingle institucional feito especialmente para comemorar a chegada do ano novo e que se tornaria um clássico. Trata-se da valsa “Um novo tempo”, de autoria de Marcos Valle, Paulo Sérgio Valle e Nelson Motta, originalmente interpretada pelo elenco da emissora. Desde estão, todo final de ano a Globo reúne seu artistas, técnicos, jornalistas e demais funcionários e apresenta uma nova versão da vinheta com todos cantando: “Hoje é um novo dia / De um novo tempo que começou / Nesses novos dias, as alegrias / Serão de todos, é só querer / Todos os nossos sonhos serão verdade / O futuro já começou / Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa / É de quem quiser, quem vier / A festa é sua, hoje a festa é nossa / É de quem quiser, quem vier”. Belíssima!
Naquele mesmo ano de 1971, o extinto Banco Nacional (fundado em 1944 e comprado em 1995 pelo Unibanco, que, por seu turno, foi adquirido pelo Itaú em 2008) apresentava sua propaganda de Natal utilizando pela primeira vez o jingle “Para não ser triste”, composto por Edson Borges de Abrantes (o “Passarinho”, já citado em texto anterior), músico que foi parceiro recorrente de Dolores Duran. Bastou reunir um afinado coral de crianças que a bela canção se tornou imediatamente um clássico natalino. Deu tão certo que por muitos anos a propaganda foi ao ar, em várias versões. Como é muito longo, reproduzo apenas a sua primeira parte: “Quero ver você não chorar / Não olhar para trás / Nem se arrepender do que faz /Quero ver o amor vencer / Mas se a dor nascer / Você resistir e sorrir / Se você pode ser assim / Tão enorme assim eu vou crer / Que o natal existe / E ninguém é triste / Que no mundo há sempre amor / Bom natal, um feliz natal / Muito amor e paz pra você, Pra você...”. Simples, direto e belo!
Em 1973, o trio Sá, Rodrix & Guarabyra (formado por Luiz Carlos Sá, Zé Rodrix e Guttembergue Guarabyra), famoso pela criação do gênero rock rural na nossa MPB, compôs para Pepsi-Cola Company um jingle que está entre os melhores da nossa propaganda: “Hoje existe tanta gente que quer nos modificar / Não quer ver nosso cabelo assanhado com jeito / Nem quer ver a nossa calça desbotada, o que é que há? / Se o amigo está nessa ouça bem, não tá com nada! / Só tem amor quem tem amor pra dar / Quem tudo quer do mundo sozinho acabará / Só tem amor quem tem amor pra dar / Só o sabor de Pepsi lhe mostra o que é amar / Só tem amor quem tem amor pra dar / Nós escolhemos Pepsi e ninguém vai nos mudar.” Dá para acreditar que à época de seu lançamento, em plena Ditadura Militar, este jingle de letra singela e meio hippie tenha causado polêmica e correu o risco de ser censurado?
Em 1974, o compositor, jornalista e publicitário Archimedes Messina, que em 1965 havia composto a música-tema de abertura do Programa Sílvio Santos (“Lá, lá, la-rá / Lá, lá, la-rá, Sílvio Santos vem aí...”), criou para a propaganda do Café Seleto um jingle adorável, abrilhantado pelo lindo arranjo de Theo de Barros (que integrou a banda de jazz Quarteto Novo). A peça publicitária se inicia com o close de uma menininha recém despertada e ainda bocejando, o plano se abre e vemos outras lindas crianças num cafezal (foto) dançando e cantando felizes: “Depois de um sono bom a gente levanta / Toma aquele banho e escova os dentinhos / Na hora de tomar café, é o Café Seleto que a mamãe prepara com todo carinho / Café Seleto tem sabor delicioso / Cafezinho gostoso, é o Café Seleto / Café Seleto”. Para lá de encantador!
Fico por aqui, mas numa próxima coluna seguirei comentando anúncios clássicos dos anos 1970 e seus respectivos jingles.
* Mário Efegomes Jr. é natural de Santos, advogado, cinéfilo e aficionado por música.
Fontes: Portais Google e Wikipédia e Revista Exame.