O HOMEM DA PAÇOCA
Por Marcio Aurelio Soares
Ultimamente, tenho pensando sobre as paçoquinhas. Adoro. Confesso que já fui mais viciado nesse doce brasileiro feito de amendoim, açúcar e, quem diria, sal.
Interessado no assunto e a fim de entender minha adicção, descobri que sua origem é indígena e que seu nome vem do tupi posok ou pa’soka que significa “esmigalhar” ou “desfazer em pedaços”. Depois dessa informação, minha vida mudou. Imaginem só! Agora como paçoca em homenagem aos nossos ancestrais. Se não fossem suas 110 Kcal por unidade, devoraria o pacote inteiro - que, em geral tem 20 unidades.
Uma pergunta que sempre me faço: qual é a mais gostosa, a paçoca rolha ou a quadrada? Em geral, a rolha é mais consistente e não esfarela tanto quanto a quadrada. Quanto à marca, todas vêm em embalagens amarelas – uma tentativa explícita de confundir os consumidores. Mas há diferenças cruciais: Se for a quadrada, a paçoca Amor (aquela com um coração vermelho) é imbatível. Já a rolha, a Paçoquita é superior. Palavra “de paçocólogo”.
Também já fui viciado em Biz - impossível comer um só -, assim como Tostines, que não se sabe se vendem mais porque são fresquinho ou são fresquinhos porque vendem mais. Delícias calóricas, o terror de quem já passou dos 60 anos. O ápice foi minha fase de Tic Tac, que, segundo o fabricante, tem menos de 2 calorias por unidade. Eu sempre levava uma caixinha no bolso, até que, num aniversário, ganhei uma caixa fechada com 100 unidades. Foi uma emoção indescritível.
Essa relação de dependência teve uma cronologia clara. Tostine marcou ninha infância, quando meus pais migraram dos biscoitos Piraquê para o Tostines, especialmente os recheados com creme de chocolate e cobertos com uma camada crocante de chocolate ao leite. Uma delícia no café da tarde. O TicTac veio depois, já na vida adulta. Orgulho-me de ter bancado meu próprio vício, só menor que o das paçoquinhas. E estas têm um agravante: o risco de esfarelar ao abrir as embalagens, especialmente no carro. Por isso, prefiro as do tipo rolha, que cheguei a comprar em potes fechados no supermercado. Às vezes, até no farol – algo mais raro hoje, já que ninguém mais carrega dinheiro no bolso. Meu “troco” está no celular, escondido em algum aplicativo. Vantagens da tecnologia.
Mas não para o senhorzinho barbudo que vende paçoca em dos cruzamentos mais valorizados da cidade. Faça sol ou chuva, dia ou noite, lá está ele. Seu rosto marcado pelo tempo, as mãos calejadas. Sinto sua dor: ali, sozinho, vendendo doces para sobreviver. Merecia estar aposentado, descansando. Cruzo a avenida, viro à esquerda, e eis outro senhor, desta vez com doces caramelizados. Elegante, segura sua bengala com uma das mãos, e a sacola de doces com a outra. O guarda-chuva está pendurado em um galho de uma árvore próxima. Meu peito aperta. Lembro-me dos meus vícios diabéticos, dos quais não me livro e nem, tampouco, ajuda-lo. Não tenho moedas. Não tenho poder. Só esta crônica