O nojo de quem mora nas ruas
Por Prof. Marco F
Infelizmente, a ganância e a insensibilidade daqueles que receberam muito da vida impedem que a imensa maioria receba o mínimo que lhes garantiria dignidade humana.
Dados divulgados pela ONU, já após o início da pandemia, apontam que cerca de um décimo da população mundial passa fome. Inacreditáveis 800 milhões de pessoas.
Você já viveu essa experiência, de não ter o que comer? Imagina como deve se sentir um pai, ou uma mãe, tendo que negar alimentos aos seus filhos?
Anderson era porteiro de uma escola no Vale do Paraíba. Pai de seis filhos, viúvo, foi assassinado alguns anos depois que deixei de lecionar na cidade. Corria uma história, muito emocionante, que me contaram, sobre um casal de professores que foi jantar na sua casa. Como não havia espaço para todos se sentarem, os pratos, com comida muito gostosa, foram servidos apenas para Anderson e seus convidados. As crianças ficaram ao lado da mesa olhando. Claramente, pela fartura, aquela não parecia ser a realidade diária da família. Quando voltavam para sua casa, a dúvida dos professores era saber se não tinham comido o jantar que seria oferecido às crianças.
Será que essa situação humilhante, de seres humanos passarem fome, não poderia ser diferente?
Aqui no Brasil, 70 milhões passam fome, mas outros 150 milhões conseguem se alimentar. Não poderiam dividir o que têm, uns mais outros menos, para que ninguém deixasse de comer? E se diminuíssemos o desperdício de alimentos? Usássemos espaços urbanos para pequenos cultivos? Existem mil possibilidades com bons resultados em outros países.
A proprietária de um restaurante reclamou, certa ocasião, dos transtornos, eles efetivamente existem, causados por moradores em situação de rua que dormiam na frente de seu estabelecimento. Pedia ajuda aos moradores do entorno.
É preciso tratar o problema com seriedade. Nojento é ver a situação em que os moradores das calçadas vivem, não eles próprios. Algumas de suas atitudes nos causam repulsa, mas julguemos ações, não pessoas.
A saída para resolver situações como essa está em ouvir os envolvidos, não ignorar a situação, nem julgar um ou outro. A velha empatia que falávamos em outro artigo. Solucionar o problema dos moradores em situação de rua pode ser complicado em nível global, depende de políticas públicas, envolve dinheiro, com investimentos maciços, mas, pontualmente é mais fácil.
Não ter o que comer, onde morar e um emprego, transformam as pessoas em zumbis, que vagam sem destino ou esperança. Muitas delas, as estatísticas mostram, tinham vidas normais, mas perderam tudo, foram enganadas ou traídas.
Vamos arregaçar as mangas. Cada um de seu modo. No seu bairro, quantas pessoas passam fome na rua? Que tipo de transtornos essas pessoas causam? O que aflige os comerciantes e moradores?
Equacionemos a questão. Todos podem ter o respeito que merecem.
Encerro com uma frase de Madre Teresa de Calcutá: "as mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam".
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* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.
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