Os impactos da reformulação do Enem para as próximas gerações
por Andressa Veiga
Com ar ditatorial e repressivo, a maior autoridade da república, pouco preocupado com a tensão e pressão que geraria nos estudantes que pleiteiam vagas em instituições de ensino, tendo em vista que qualquer alteração no modo de aplicação neste tipo de exame prejudica a estratégia construída pelos estudantes para realizar uma boa prova e alcançar uma maior pontuação, afirma que o exame teria 'a cara do governo'.
Entretanto, quais seriam as modificações? O que mudaria na prova? Como ficaria a relação das disciplinas? Haveria mudanças no critério de pontuação? Imagine comigo como ficou a cabeça dos estudantes que foram pegos de surpresa com esta frase politicamente infeliz, inclusive, que se preparam ao longo do Ensino Médio para tal exame, sem contar o negativo peso político e ditatorial que tal frase carrega.
De fato, aplicado o exame, houve modificações visíveis no conteúdo programático. Alguns pontos chamaram muito a atenção, o primeiro e o mais importante, o tema de redação abordado acerca das dificuldades que se encontram em se realizar o registro civil no Brasil, cujo tema não é sequer abordado nas grades curriculares de ensino médio, eu mesma, a autora que vos fala, somente comecei a ter abordagens sobre o assunto nos bancos acadêmicos no terceiro semestre na faculdade de Direito.
É minimamente cruel abordar este assunto com estudantes de ensino médio que sequer possuem bagagem acadêmica e cultural para dissertar acerca do tema, o que só comprova que este governo nunca esteve e nunca estará do lado dos estudantes, sobretudo os de baixa renda. Em uma tentativa onírica de se separar de contextos políticos ou ideológicos, que na verdade são reflexões críticas no que se refere a 'baderna' que o governo em questão realiza com políticas públicas sérias, são imputados a alunos do ensino médio temas os quais os mesmos, regularmente, não teriam condições de dissertar sobre. É uma vergonha!
Alguns outros pontos que merecem destaque apontados pelos examinandos foram o desequilíbrio no nível de dificuldade das questões, alternando entre questões de facílima resolução e de grau elevadíssimo de dificuldade, o que, com o método de cálculo deste tipo de exame, desequilibra muito a nota, gerando mais adversidades para se alcançar uma boa nota. Deve-se destacar a resistência dos servidores públicos do INEP, que procurou adicionar questões repudiando e ironizando o comportamento do presidente da república, especialmente a questão que contém a canção 'Admirável Gado Novo'.
Segundo o site especializado em educação, Brasil Escola, entre os 3,1 milhões de inscritos na edição de 2021 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cerca de 2,1 milhões compareceram aos dois dias de provas. É o menor número de participantes desde que o Enem foi reformulado, em 2009. Declarações incabidas como a do presidente da república e a evasão escolar onde jovens abandonaram os estudos para complementar a renda familiar de suas famílias certamente são causas certas que contribuem para este tipo de dado.
Por hora, fica a lição, o ENEM é nada mais nada menos que uma política pública de acesso a educação e deve ser respeitada como tal, não sofrendo qualquer intervenção política e que deve respeitar princípios de lisura e de impessoalidade. Vamos cobrar e desejo toda a sorte a estes corajosos examinandos que com as condições de pressão, temperatura e caos gerados pelo governo federal realizaram o exame. São o futuro do Brasil, literalmente!
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* Andressa Veiga é graduanda em Direito pela Universidade Metropolitana de Santos e atua como militante e ativista pelos direitos das mulheres, estudantes e da juventude.
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