Parto humanizado versus violência obstétrica
* Alcione Marinho de Moura
Você já ouviu falar de parto humanizado? Pois é pessoal, há cerca de 30 anos, a grande maioria das mulheres, quando chegasse a hora do parto, seria internada, sem direito à acompanhante, sem participar de nenhum tipo de decisão sobre o seu corpo ou o de seu filho. Você tinha que obedecer às regras sem nenhum questionamento, pois tudo o que você fizesse poderiam culpá-la por um parto malsucedido.
Já presenciei desde violências veladas, que você fica em dúvida se é violência ou não, como ficar dias em jejum, não poder se levantar da cama, não poder escolher a posição que deseja permanecer; até coisas grosseiras como dizer que na hora de “fazer” não doeu; violências gratuitas e sem nenhuma justificativa; inclusive procedimentos e manobras desnecessárias, sem nenhuma evidência científica, que se perpetuavam.
Tem um experimento famoso com macacos: colocaram cinco macacos em uma jaula e um cacho de bananas no alto de uma escada. Quando um macaco decidia subir na escada para comer uma banana, os demais recebiam um banho de água gelada. Isso se repetiu por um certo período até que quando qualquer macaco tentava subir na escada, tomava uma surra dos demais. Depois de um tempo foram substituindo os macacos um a um, cada vez que um macaco tentava subir a escada: surra. Ao final, todos os macacos foram substituídos, porém o comportamento de surrar qualquer um que tentasse subir a escada persistia, mesmo que nenhum macaco desse novo grupo tivesse tomado banho de água gelada.
Felizmente para as parturientes, a partir do século XX, perceberam que esse comportamento tecnicista, focado no médico, não reduziu as taxas de complicações e de mortalidade.
Nesse contexto, o movimento de humanização do parto, considera que a conduta de intervenção seja usada com muito critério. Parto humanizado não significa parto normal, mas com indicações precisas, mesmo porque até o parto cesariana pode ser humanizado, com direito à acompanhante e contato pele-a-pele com a mãe.
No Brasil, ainda precisamos caminhar muito para que o parto humanizado seja direito de todas as mulheres, cada vez que reunimos mulheres e falamos de experiências de parto, vemos que a grande maioria sofreu várias violências de parto. Difícil é acreditar que precisamos falar para as pessoas serem mais humanas num momento que é a essência da Humanidade: o parto.
(Crédito da foto: Sanjasy/Pixabay)
* Alcione Marinho de Moura é médica, mãe, trabalhista e feminista.