Prefeito preso. Povo sem liberdade
Por Marcio Aurelio Soares
A prisão é indício de um suposto ato criminoso. É a última alternativa de uma autoridade policial ou judiciária diante de fortes evidências ou comprovação de um crime. Ela representa, individualmente, para o criminoso, uma penalidade grave pela perda de sua liberdade e, num primeiro momento, mais ainda, pela destruição de sua imagem diante de familiares, amigos e da sociedade, especialmente no caso de um líder, como um prefeito. Preso, ele terá muito tempo para refletir sobre suas atitudes.
Longe de querer tecer comentário moralista. Não vou entrar na seara do “bem contra o mal”, pois abstrato e dentro da esfera pessoal. O foco é coletivo, ético. De ética política. E abordando sobre este aspecto, temo pensar que veremos muito mais políticos na cadeia; tantos quantos for a disposição de quem deve cumprir papel de fiscalização e controle da administração pública.
Refiro-me ao Tribunal de Contas, ao Ministério Público e, em se envolvendo dinheiro do SUS na cidade, do Conselho Municipal de Saúde, que tem a participação de representantes da sociedade.
E por que o uso indevido de dinheiro não é raridade na administração pública, e, com raras exceções, transcorrem impunimente? Alguns o fazem a partir da dissociação da ética da política, como que o poder tivesse suas próprias razões, criando aí um constante clima de tensão entre o poder, ética e Direito. Na prática significa que “os fins justificam os meios”, como escreveu Maquiavel. Princípio no qual muitos se apropriam, na esquerda e na direita. Tudo pela manutenção e exercício do poder. O que vale a perguntar, se o fim é justo, tudo se justifica?
Será que é possível fazer política, administrar um território, sem ética? Não. A política não pode existir sem ética, com o risco de criar uma perversão de valores, de forma a ser aceito o “rouba, mas faz” e prejudicar a própria coletividade, em última análise, a maior prejudicada pela corrupção. A ética de uma sociedade é baseada na educação, no exemplo, e no hábito; e sua prática é que nos faz pessoas virtuosas, que vivem, como afirmou Aristóteles, em busca da felicidade. Pensando assim, os políticos não devem pleitear interesses individuais, mas, sempre coletivos; caso contrário, estarão agindo contra a ética, dignos de reprovação legal e social.
Mas como conciliar o exercício do poder, de forma objetiva, com a ética? Colocando em campo os interesses coletivos, o que só conseguiremos quando nós, população, sairmos da posição de espectadores e subirmos no palco, nos colocando como sujeitos, e não como objetos da ação política. Participar, fiscalizando, exigindo seriedade na gestão pública, e entender que o cidadão, como uno de uma sociedade, tem que ser o motivador da ação política. Não haverá liberdade numa sociedade omissa e subjugada por “líderes” maquiavélicos, no sentido estrito do que isso significa. Chamá-los de bandidos, corruptos, faz bem, mas só para nossos pulmões. É fácil? Não. Comecemos, pois.
* Marcio Aurelio Soares é médico.
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