Que saudades da professorinha
por Prof. Marco F
"Eu moro em Santos, mais sou corinthiano". Com certeza, você já ouviu frase semelhante, com alguém trocando o "mas" pelo "mais ". E o pior é que gente estudada faz isso.
Todos nós, em algum momento, nos atrapalhamos com as palavras, tempos verbais, acentos e pontuação. Esses erros, quando se repetem com maior frequência, mostram que as pessoas não têm hábito de leitura, algo que se adquire na infância. E a culpa pode estar na escola...
As professoras, no início da vida escolar são raros os homens em sala de aula, determinam os livros que as crianças devem ler, supondo que todos tenham os mesmos gostos e interesses.
Conhecer os clássicos, os diversos momentos literários e autores é importante, mas os diversos alunos se interessam por assuntos e estilos diferentes.
Caberia aos educadores descobrir a preferência de cada uma das crianças, oferecendo-lhes livros que prendessem sua atenção. Todos gostamos de ler, mas não as mesmas coisas.
Obrigados a ler o que não lhes interessa, muitas crianças pegam raiva dos livros. Um pouco de jogo de cintura por parte do adulto, sabendo como introduzir o hábito de leitura, será decisivo em suas vidas.
Uma mãe inteligente, preocupada com a boa alimentação de seus filhos jamais lhe serviria espinafre, escarola, jiló, quiabo e rúcula em todas as refeições. Mesclaria aquilo que é saudável com o que agrada a criança.
No Brasil, quem trabalha com ensino infantil e básico costuma receber salários menores que aqueles que lecionam no ensino médio e universidades. Alguns são jovens, recém-formados, ainda não capacitados para ocupar posição tão importante. Para os amantes do automobilismo, nas escolas faz-se algo como entregar uma Ferrari a um garoto de 13 anos. Talento pode lhe sobrar, mas ainda não está preparado para conduzir aquele carro.
Reconhecidamente decisivas em nossas vidas escolares, essas professoras são tratadas como se fossem menos importantes, recebendo salários pouco atraentes e que impedem sua participação em cursos e capacitações, obrigadas que são a trabalhar em mais de uma escola para honrar seus compromissos.
A situação só não é pior porque, idealistas e talentosas, muitas superam suas deficiências de formação com dedicação ímpar. E porque as mulheres são mais inteligentes e intuitivas.
Não existem professores acomodados, nunca os verão quietos. Não à toa, são feitas tantas paródias com suas figuras, sempre envolvidas com mil e uma atividades, eventos e produções artísticas.
Existem escolas e escolas. Já trabalhei em diversos "esquemas". Acredito que em duas ou três, óbvio me refiro à escolas particulares, senti reciprocidade na relação com os mantenedores. Infelizmente, na maior parte delas, o professor é tratado sem o respeito e valorização devidos. Isso desestimula o ingresso de jovens na carreira.
A pandemia escancarou as mazelas da sociedade. Com a desculpa de redução de receitas, algumas escolas passaram a oferecer aulas online para várias turmas ao mesmo tempo. Um único professor substitui dois ou três que trabalhavam no presencial. E, pior ainda, algumas aulas são gravadas e usadas diversas vezes, até mesmo em outras cidades, nas escolas que fazem parte de redes e sistemas de ensino.
Lutemos pela valorização das professoras e professores do ensino infantil e ensino básico. Quando procurava escola para um filho, ouvia o discurso pronto daqueles que a estavam apresentando, sempre com a mesma conversa furada, falando sobre tablets, salas climatizadas, wi-fi em todas as salas, playground e outras coisas, mas deixava para o final uma pergunta decisiva: "Quanto ganha o professor? " .
Faça essa pergunta na próxima reunião entre pais e mantenedores, e questione o porquê de demissões injustificadas.
É impossível que uma escola séria tenha professores mal remunerados.
O Brasil precisa de educação de qualidade para todos, em escolas públicas e privadas.
Se o seu filho estuda na rede municipal e estadual, exija seus direitos, denuncie irregularidades, cobre vereadores e deputados.
Se estuda em escolas particulares, CUIDADO! Escolas tem trocado professores experientes por gente nova, mesmo que igualmente talentosos, muito menos experientes, apenas para ganharem mais dinheiro.
Faço parte do MTPE-SP, Movimento Trabalhista pela Educação, pois acredito que o único modo de reduzirmos as desigualdades sociais é apostarmos nossas fichas na educação. Chega de teorias e discussões sem fim, façamos algo pelo futuro das crianças brasileiras. Quero ouvir suas ideias e opiniões.
marcof@marcof.pro.br
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.
Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal Raiz Trabalhista.