Que tudo dê certo!
* Prof. Marco F
Os mais antigos se lembrarão do hino da Seleção Brasileira na Copa do México, a primeira realizada por lá, em 1970: "90 milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração..."
Tinha quatro anos incompletos e lembro vagamente, acho, porque me contaram essa história, dos jogadores desfilando pelas ruas de São Paulo, após a conquista do tricampeonato mundial.
Muitos anos se passaram, agora somos 210 milhões de brasileiros e a relação entre o número de craques/população diminuiu bastante, pela redução do numerador e aumento do denominador dessa fração.
A torcida pelos canarinhos já não é mais a mesma e, com certeza, um bom jogo entre os grandes times brasileiros atrai muito mais telespectadores. É comum ouvirmos: "Jogo do meu time eu assisto, da seleção não faço questão".
Mas, em 2022 tem Copa do Mundo, no Catar! Nos mundiais ainda mantemos a fama de apaixonados pelo futebol, mais pela grande festa que para o país.
Surgem nas transmissões de jogos de copa a figura daqueles que nada entendem do assunto: "Foi pênalti!, "estava impedido", "fulano joga muito".
Comentários dessas pessoas irritam muito os entendidos. Nervosos com o desenrolar do jogo são obrigados a explicar que o goleiro pode pegar a bola com a mão, o juiz é o de uniforme preto (ou não...), o Brasil faz gol do lado direito da tela da TV...
Vivemos momentos semelhantes no mundo. A internet nos tornou especialistas em tudo. Há quem se sinta no direito de discutir sociologia porque acabou de ver um vídeo do Prof. Cortella, ou sobre 2ª Guerra Mundial por ter lido um resumo sobre o assunto em um site de cursinho pré-vestibular.
Sempre que isso acontece, deveríamos observar como estamos nos tornando pretensiosos, tentando explicar o “Padre Nosso ao vigário”.
Se temos uma boca e dois ouvidos, aprendamos a nos calar quando estivermos conversando com quem pode nos ensinar algo. O silêncio, que também é sinal de boa educação, permite que nosso interlocutor seja o protagonista.
Um amigo pediatra confessou estar cansado de atender mães que chegam ao seu consultório com o diagnóstico pronto, após consulta ao "Dr. Google", solicitando apenas receitas de remédios " indicados" por ele.
"Santa ignorância e petulância, Batman!", diria Robin no delicioso seriado de TV dos anos 1960.
Acompanhei durante certo tempo, acredito uns quatro meses, o perfil de Instagram de um grupo de mães cujos filhos estudam em grandes escolas de São Paulo, que lutam pelo retorno imediato das aulas presenciais.
Fiquei assustado com comentários de alguns, como "moro em um condomínio fechado, com lago, quadra de tênis e sala de cinema, mas, mesmo assim meu filho não aguenta mais tanto tédio. Tadinho dos mais pobrezinhos".
Tentei discutir com algumas dessas pessoas, explicando-lhes que a questão é complexa, envolve, sim, aspectos emocionais que atingiram os estudantes e o mal que a situação tem provocado em sua formação como estudante e ser humano, mas também a vida de profissionais da educação e dos próprios alunos. Sempre dizendo que prefiro e sempre ansiei pelo momento de voltar a lecionar presencialmente. Alguns motivos, entretanto, fizeram com que bloqueasse o perfil e deixasse de responder manifestações de outras pessoas.
A quantidade de opiniões de "especialistas", gente que não entende nada de educação e que não conhece a realidade, nem sempre boa, de escolas públicas e particulares. E, também, a incapacidade das pessoas de se colocarem no lugar dos outros.
Em várias escolas, as aulas presenciais, com até 100% dos alunos, retornaram no início deste mês.
Quando, cinco anos atrás, fiz a última sessão de quimioterapia, senti medo... medo do desconhecido, do que aconteceria depois.
O retorno dos alunos é muito importante, mas temos dúvidas sobre a melhor data.
Que o avanço da vacinação seja suficiente para conter um novo aumento nos casos de Covid.
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.