Uma Nação adiada
*Marcio Aurelio Soares
“A finalidade do Estado é promover a justiça social. Mas não há justiça social sem desenvolvimento e não há desenvolvimento sem soberania”.
Getúlio Vargas
Em seu “Projeto Nacional: O Dever da Esperança, no capítulo Uma Nação Adiada”, Ciro Gomes nos mostra o quanto o Brasil vinha se desenvolvendo durante o século XX, período que foi de 1900 a 1999.
Nesta época, o Brasil aumentou o seu PIB em 100 vezes. PIB significa Produto Interno Bruto, a riqueza produzida em um determinado tempo.
Não houve um crescimento como esse na história do mundo.
E mais, o cidadão médio brasileiro ao final do século, produzia 12 vezes mais riqueza do que em 1900.
É bem verdade que isso não aconteceu em um período de 100 anos, mas, menos ainda! Até 1930, éramos um país que só vivia da agricultura, especialmente do café e da cana de açúcar, a ponto de chegarmos a ter que comprar do exterior facões e enxadas, pois não produzíamos essas ferramentas em quantidade suficiente para o consumo.
Pode-se dizer que o grande salto de desenvolvimento brasileiro se deu entre 1932 e 1980.
Esse não é um fato que ocorreu naturalmente. Um país não se desenvolve se não houver muito planejamento e vontade política dos governantes para isso. E tem que se ter muito cuidado com sabotagens e tentativas de desestabilização do desenvolvimento por parte de estrangeiros. E isso é fácil de entender. Se eu consigo produzir bem aqui dentro, eu deixo de comprar lá fora. A isso se chama “guerra de mercado”.
Uma nação tem duas escolhas: se mantém atrasada, só vivendo da agricultura, como foi e ainda é o caso da Bolívia, ou vive da extração mineral, como a Venezuela, que vive só da exportação de seu petróleo.
Mas aqui no Brasil em algum momento de nossa história, uma vanguarda política audaciosa se convenceu a industrializar o país e foi capaz de construir um projeto.
Deu certo antes, por que não pode vir a dar certo novamente? Por isso temos que lutar para que isso aconteça de novo.
E, se deu certo antes, foi porque existiu um grande líder que foi responsável por isso e que se chamava Getúlio Vargas. A Revolução de 1930 mudou a face do poder do Estado brasileiro, de um país que vivia da agricultura, como já comentamos, para um país disposto a se industrializar para superar o subdesenvolvimento.
Não é à toa que quando esse processo se acelerava com a fundação da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, em 1941, a Companhia Vale do Rio Doce, em 1943, e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco, em 1945, Getúlio Vargas é deposto pela primeira vez. Ou seja, interesses estrangeiros foram mais fortes e o derrubaram do poder.
Mas, em 1950, através do voto, Getúlio Vargas volta a ser o presidente do país. Três anos e meio de governo foram o suficiente para que ele criasse a Petrobras, a Eletrobras e o BNDES, mesmo enfrentando forte oposição de parte da elite brasileira, que preferia seus privilégios ao desenvolvimento do país e dos brasileiros.
E, com a mesma desculpa de sempre de corrupção, esses abutres do país deixaram Vargas num beco político sem saída, ao qual ele respondeu com o gesto político de seu dramático suicídio, em 24 agosto de 1954. Deu um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. O que gerou uma verdadeira comoção nacional. O povo foi para as ruas e impediu que os golpistas assumissem o poder, garantindo a eleição de Juscelino Kubitschek, com João Goulart na vice-presidência. Nesse período, dá-se início à criação da indústria automobilística, impulsionamento da Petrobras, a construção de Furnas e várias outras pequenas hidrelétricas, transformando nossa fonte de energia na mais limpa e barata do mundo.
Juscelino cortou o país de fora a fora com 14 mil km de estradas e, por fim, a construção da cidade de Brasília.
Em 1960, na eleição presidencial seguinte, Jânio Quadros é eleito, mas, seis meses depois, renuncia. Nessas eleições também, Jango, como era chamado João Goulart, tinha sido eleito vice-presidente.
As eleições para presidente e vice não eram vinculadas, mas sim separadas uma da outra. Quer dizer, você votava para presidente e, em outra cédula, votava para vice-presidente. E, mais uma vez, aquelas elites que não queriam o desenvolvimento do Brasil, tentaram impedir a posse de Jango. Não conseguindo, sabotaram seu governo até darem outro golpe em 1964, que nos levou à ditadura militar até 1985.
Viva Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, que liderou a campanha da legalidade, de resistência à tentativa de golpe e compromisso com a posse de João Goulart em 1961.
* Marcio Aurelio Soares é médico.