Valorizando a diferença...
Por Prof. Marco F
"Não saco nada de física, literatura ou gramática, só gosto de educação sexual e odeio química, química, química..."
Esta música, "Odeio Química", da Legião Urbana, também cantada pelo Capital Inicial, retrata os sentimentos de muitos estudantes em relação às escolas.
O fato é que elas se tornaram chatas e não conseguem cumprir sua maior finalidade, de formar indivíduos com espírito crítico e que possam viver em plenitude sua cidadania.
Há quem garanta que manter escolas fracas é uma maneira de manipular a população. Eu acredito também na incompetência dos governantes.
O NOVO ENSINO MÉDIO, que começa a ser implantado em 2022, oferecerá aos alunos a oportunidade de escolherem as áreas de conhecimento de seu interesse, com disciplinas eletivas e trilhas formativas. Será uma tentativa de oferecer caminhos diferentes para pessoas diferentes.
Temos nossas preferências, assuntos que nos interessam mais, mas será importante garantir que os alunos recebam uma formação eclética, contemplando as diversas áreas de conhecimento.
Mas será que as escolas e professores estão preparados para essas mudanças? Que tipo de formação os auxiliará na transição para esse novo modelo?
Os resultados nas avaliações mostram alunos com grandes dificuldades em operações matemáticas e de interpretação de textos. Não tem o hábito de leitura, escrevem muito mal.
De que modo as mudanças propostas combaterão essas deficiências?
Fica o receio que estaremos simplesmente permitindo que se evite estudar aquilo que não nos interessa. Quem não gosta de matemática, não precisa cursar engenharia, mas ter noções básicas de cálculos facilitará sua vida. Pense, por exemplo, naquelas pessoas que utilizam calculadoras para somas simples, de números inteiros e pequenos: 3 + 2 + 6 igual a ...
O conhecimento liberta, abre portas. Sem ele, nossa vida é muito limitada, apenas sobrevivemos, dependendo daqueles que detém o poder.
A questão não é deixar de ter aulas de Química, Língua Portuguesa, Biologia ou qualquer outra disciplina, mas, sim abordarmos temas importantes para que o aluno compreenda melhor o mundo que o cerca. Como alguém pode não gostar de Geografia? Ou de Física? O erro está na forma como os assuntos são abordados, algumas vezes de modo superficial, outras com rigor excessivo.
Só gostamos do que entendemos.
Professores tem maneiras de agir e pensar diferentes.
Os alunos precisam dessa diversidade de atitudes, posturas e visões de mundo para formar suas próprias opiniões e moldar sua personalidade.
Que as escolhas oferecidas no NOVO ENSINO MÉDIO permitam que os estudantes se aprofundem naquilo que mais os atraem, sem deixar de lado o conhecimento e a cultura geral.
Atualmente, pouca gente sabe a fórmula ou nome da substância presente no sal de cozinha, resolve questões simples de história, física ou qualquer outra disciplina. E, pior, sabe interpretar textos.
"Professor, o que ele quer na questão 5? Eu entendi, mas não sei o que devo responder..."
As escolas, principalmente, algumas pertencentes a redes de ensino ou franquias, erram ao transformar aulas em números, que devem ser atingidos, não importando o que seja necessário fazer. "Na prova, cairá da aula 27 à aula 30." Para cumprir a meta, professores usam táticas para discutir determinados assuntos em menos tempo. Por exemplo, explicam apenas aquilo que será necessário para resolver os exercícios propostos no material de aula. Não há preocupação, nem tempo para a criação do conhecimento. Muitas se transformaram em cursinhos, onde o importante é "passar no vestibular".
Alunos são massacrados com informações e não tem tempo para assimilá-las ou relacioná-las.
E, pior, os que não se adequam ao esquema são abandonados.
Mas, se muitas vezes não sabem e não gostam de "voar", "nadam" muito melhor que os seus colegas. E continuam se preocupando só com sua dificuldade em bater as asas.
Já me referi, em outra ocasião, ao que disse a coordenadora de uma escola que trabalhei há muito tempo: "Aquele menino é muito fraco em tudo. Mau aluno. Só é um excelente pianista". Um comentário de alguém que talvez se referisse à Messi como apenas um gênio da bola.
Meus amigos, a vida é curta. Nascemos com talentos e habilidades únicos. Não há outro você, com as mesmas especificações de fábrica. Por que as escolas insistem em nos tratar como números?
Professores, preocupem-se em valorizar as virtudes de seus alunos. Use-as nas aulas. Seja o regente da orquestra e ofereça a oportunidade de todos serem protagonistas, terem seus 15 minutos de fama. Tem muito aluno que precisa de um empurrãozinho seu para ter uma vida mais feliz.
Quero ouvir sua opinião e seus comentários.
professormarcof@gmail.com
* Prof. Marco F é bacharel em Química (IQUSP-SP), professor desde 1987, coach certificado (IBC), radialista e jornalista.
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