Vou amarelar
O Setembro Amarelo é uma campanha em alusão ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
Por Marcio Aurelio Soares
Vou amarelar, não no sentido pejorativo do termo, de amedrontar-me ou fugir. Muito ao contrário, vou amarelar o mês de setembro.
É neste mês, em que comemoramos a independência do Brasil (será mesmo?) e a chegada da primavera, que a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza o Setembro Amarelo, uma campanha de conscientização em alusão ao Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, dia 10.
É importante que falemos desse assunto sem tabus. No Brasil são registrados cerca de 12 mil suicídios por ano, e cerca de 1 milhão em todo o mundo. Uma triste realidade por se tratar de perda de vidas humanas. Perdas que poderiam ser evitadas, mas que crescem, principalmente entre os jovens.
O suicídio é considerado, em todo o mundo, questão de saúde pública. Cerca de 97% dos casos estavam relacionados a transtornos mentais, em especial a depressão, transtorno bipolar e abuso de drogas. Para termos uma dimensão real de sua gravidade, basta dizermos que os estudos nos mostram que 17% da população brasileira pensaram, em algum momento, em tirar a sua própria vida.
O suicídio é um fenômeno presente em toda a história da humanidade e em diferentes culturas, sendo determinado por inúmeros fatores, como psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. Como característica também do fenômeno estão os elementos de composição: ideações suicidas, comportamento suicida, autonegligência, autopunição e o ato suicida.
Muitos erros e preconceitos vêm sendo historicamente repetidos, o que contribui para a construção de um estigma que faz as pessoas se sentirem envergonhadas, excluídas e discriminadas pela sociedade. Por isso é importante estarmos atentos, amigos, familiares e profissionais de saúde. E precisamos desfazer alguns mitos.
Ao contrário do que muita gente pensa, o suicídio não é uma decisão individual de exercício do livre arbítrio. De um modo geral, esses indivíduos estão passando por uma doença mental que altera radicalmente sua percepção da realidade. A ameaça de suicídio não deve ser encarada como chamada de atenção. O suicida fala ou dá sinais sobre sua ideação de morte dias ou semanas antes; oferece sinais claros de sua intenção, mas poucos os levam em conta.
É comum um possível suicida dizer coisas como “morrer seria um alívio”, “não quero mais viver”, “a vida é um fardo”, ou “eu não presto para nada”. Não subestime essas afirmações, procure um profissional de saúde mental o quanto antes.
Não será após a melhora clínica de uma tentativa de suicídio que o indivíduo estará, necessariamente, fora de perigo. É preciso atentar para o fato de que um dos períodos mais delicados é quando ele está melhorando da crise que o motivou na tentativa; é quando a pessoa está particularmente fragilizada, e a atenção deve ser redobrada.
O que devemos fazer? Falar sobre suicídio sem tabus.
O ser humano é o único animal que possui consciência da morte e do morrer e, portanto, é único em sua capacidade de se prevenir da morte. Este não é um papel a ser desempenhado só pelos profissionais de saúde. Vamos amarelar a cidade e mostrar que somos capazes de tomarmos mais uma atitude positiva em favor da vida.
*Marcio Aurelio Soares é médico.
Coluna do Jornal da Orla:
https://www.jornaldaorla.com.br/noticias/50252-vou-amarelar/
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